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Arquitetos: Centro Arquitetura
- Área: 143 m²
- Ano: 2021
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Fotografias:Pregnolato & Kusuki
Descrição enviada pela equipe de projeto. Duas lajes-jardins, uma torre, um pátio, um terraço e a mata-ciliar vista da janela. Essa é a essência dessa pequena casa, feita para um casal e sua filha, em um loteamento de Bragança Paulista, interior de São Paulo.
A principal virtude encontrada no lugar em que a casa seria erigida foi a paisagem natural, o relevo do terreno em declive, que culminava em um córrego e sua mata-ciliar remanescente preservada. Considerando isso, o projeto foi concebido explorando as características do sítio original, inserindo a casa na paisagem como se dela fosse parte.
[...] o esforço de integração do edifício à topografia resulta do reconhecimento da necessidade de promover inserções mais delicadas nas paisagens, que em última instância devem ser entendidas como bens públicos, cujas virtudes não devem ser destruídas pela inserção de edificações privadas. Ainda que não se ofereçam como espaços públicos, trata-se aqui de considerar a maior importância do interesse público sobre os interesses privados, e de subordinar o desenho do edifício às pré-existências relevantes. (MACIEL, 2017, p. 177) [1]
A casa é constituída por dois volumes prismáticos de mesmas dimensões, meio nível defasados entre si, articulados pela torre da escada e separados pelo pátio. A torre, além de conter a escada de conexão entre pisos de meio em meio nível, serve como suporte para os reservatórios de água e as placas solares. Sob a primeiro laje-jardim, estão os dormitórios e os banheiros e sob a segunda, os espaços coletivos da casa, com salas de estar e jantar, cozinha integrada e lavandeira.
A casa praticamente não aparece para quem a vê da rua, o que permite às pessoas que passam, visão desimpedida de parte da mata ciliar no fundo de vale. O acesso para a garagem é feito por uma ponte em nível com rua. Espaço de transição coberto entre o domínio público e o privado. A entrada é feita por uma porta contida na torre. A partir daí, descendo a escada, a casa vai sendo paulatinamente revelada. O patamar da escada, meio nível abaixo, corresponde à laje jardim de cobertura do espaço da sala, mirante de onde se pode estar em contato mais próximo com a paisagem da mata, na altura da copa de suas árvores. Meio nível abaixo chega-se aos dormitórios e, finalmente, mais meio nível abaixo, ao espaço coletivo da casa, que se abre integralmente para o terraço, o quintal e a mata.
A defasagem entre blocos, além de permitir uma melhor acomodação da construção à topografia, diminuindo a necessidade de movimentação de terra e principalmente de descarte, proporcionou qualidades semelhantes a todos os ambientes, tanto de iluminação natural, considerando a orientação norte, quanto de perspectivas e visuais.
Procurou-se estabelecer conexões visuais e espaciais entre os ambientes contidos no primeiro e no segundo bloco, bem como expansões entre os espaços interiores e exteriores. Dos quartos pode-se sair para o pátio e dele, à sala (pela lavanderia). A sala dá acesso ao terraço, através de grandes panos de vidro de correr que, recolhidos, praticamente tornam o ambiente um só.
A estrutura tem um papel importante para garantir as generosas aberturas e a relação franca entre os espaços. As alvenarias feitas em tijolos maciços de barro são parte da estrutura de sustentação da casa, são planos verticais que suportam as vigas e lajes de cobertura. Dessas vigas, as principais são as que vencem os vãos longitudinais dos dois blocos, três delas com um metro de altura vencendo o vão integral de dez metros e uma de exceção, voltada para a rua, mais baixa em função das pequenas aberturas ali contidas. As abas de concreto em balanço são como beirais e protegem os espaços das intempéries, chuva e sol em excesso. Tanto as alvenarias de tijolos quanto as vigas e lajes em concreto armado são aparentes, revelando a natureza dos materiais e as características construtivas da obra.
Notas:
[1] Brasil, Alexandre. Arquitetos Associados / Alexandre Brasil; André Luiz Prado; Bruno Santa Cecília; Carlos Alberto Maciel; Fernando Luiz Lara; Paula Zasnicoff. – Belo Horizonte: Miguilim, 2017.